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Arquitetos: Rama Estudio
- Área: 730 m²
- Ano: 2022
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Fotografias:José de la Torre, Isabel Delgado
Descrição enviada pela equipe de projeto. O projeto fica no bairro de Guápulo em Quito, um antigo assentamento indígena que se transformou de aldeia na periferia da cidade para bairro urbano e onde hoje existe uma população heterogênea. A maioria das casas é auto-construída e usada para abrigar famílias numerosas. Com o passar do tempo, estas habitações foram sendo convertidas em casas de aluguel, principalmente para artistas, migrantes, turistas e estudantes.
A proposta foi reabilitar a casa de aluguel existente feita a partir de um processo de autoconstrução familiar que durou 40 anos, que incluía 9 espaços de habitação, 3 espaços comerciais e 3 banheiros que eram compartilhados pela comunidade flutuante que os habitava. A pré-existência era precária e precisava passar por um estudo e uma reforma estrutural. Por conta disso, a propriedade se encontrava parcialmente abandonada. A intenção da reforma era minimizar o investimento necessário para recuperar os espaços, torná-los seguros e conferir maior qualidade espacial para a reinserção de novos usos e habitantes.
A pré-existência foi construída em etapas, e cada uma delas foi executada com diferentes materiais e sistemas, por isso ela apresentava adobe, taipa, lajes de concreto, mezaninos de madeira, bloco, tijolo, zinco, telha, etc. A resposta a esta variedade de materiais foi respeita-las e trabalhar nos detalhes de cada um dos espaços.
Tomamos a casa alugada como um estudo de caso para ir descobrindo, descascando suas camadas para, finalmente, adicionar elementos utilitários. Queríamos provar que estruturas auto-construídas, mesmo se abandonadas e precárias, podem ser reformadas e re-habitadas com um orçamento baixo, abrindo o leque de opções para outras casas da região que também se encontravam em estado de alta deterioração. A casa de aluguel foi encarada a partir do contexto do bairro e de seu uso misto, e por isso diferentes atividades podem acontecer ao longo da encosta e dos terraços do projeto. Pretende-se que os investimentos de reabilitação sejam feitos principalmente nos interiores dos espaços de moradia, e que os exteriores sejam o resultado da apropriação dos vizinhos que irão gradualmente melhorar seu acesso ou terraço adjacente.
Estratégias de Reabilitação
A estrutura existente é mista, não responde aos eixos estruturais, foi desenvolvida de acordo as possibilidades de construção que a família teve ao longo de 40 anos de autoconstrução. A reabilitação estrutural se concentra em aliviar a construção, removendo tudo que acrescenta peso à estrutura, em uma depuração espacial, de superfícies e de revestimentos. Posteriormente, novas peças metálicas foram fixadas como pórticos que reforçam as fachadas e amarram o mezanino para formar um único corpo estrutural.
A maioria das superfícies apresentava umidade, o que significava que as paredes de taipa que suportavam a carga não conseguiam respirar e criavam câmaras de água. Por isso, os revestimentos foram removidos e as paredes ventiladas. A própria terra do terreno foi utilizada como pigmento e matéria-prima para a fabricação de tinta de barro, o que permitiu que as superfícies fossem cobertas, e os materiais unificados.
Toda a madeira existente foi recuperada através de um processo de tratamento com óleos naturais e pesticidas, e as peças com aberturas foram amarradas e reforçadas. Os pisos foram reconfigurados, polidos e reaproveitados.
A única peça adicionada foi um espaço projetado em uma lógica modular pensando na possibilidade de desmontá-lo se necessário. As peças são padronizadas e montadas com parafusos. Este módulo gera uma estrutura que une o quintal ao terreno e à vista do vale de Tumbaco.